http://www.makepovertyhistory.org

Tuesday, September 27, 2005

Segue o teu destino


Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Ricardo Reis


Monday, September 26, 2005

Alguém sabe...

Alguém me sabe dizer que é feito de "Os Velhos do Restelo"?

Friday, September 23, 2005

Tropeçar no fado


O homem que me gerou, faz anos hoje. O atributo de nome pai, não lhe faz jus, o seu corpo estava presente, mas ausente em tudo o resto.
O homem a quem atribuo o nome de pai, faz hoje 3 meses que pereceu. Não me gerou, e embora o tenha conhecido um pouco tarde na minha existência, “limou algumas arestas” e hoje faz parte da minha maneira de ser e de estar.
Pai, este texto é para ti, porque embora tu soubesses o quanto sentia por ti nunca tu disse. Sinto a tua ausência e se pudesse pedir algo, queria-te de volta!

O dia de ontem

Não sou pessoa de queixumes. Sou rodeada por algumas pessoas dentro do género e por vezes acho que vou explodir com tanto queixume (se têm carro é porque não andam a pé e não fazem exercício, se andam a pé é porque não têm carro e demoram mais tempo a fazer o seu dia-a-dia, etc e tal). Para quem não sabe, e acho que só eu soube, ontem tive um dia bem difícil. O patronato resolveu tirar o fim do dia para desancar em cima de mim. Como se eu fosse o seu problema, como se eu tivesse feito a asneira, como se tivesse a culpa de ele estar stressado. Tem o dom de me fazer sentir estúpida e pequena, e não vale a pena dizermos o que quer que seja, pois ele tem sempre razão. Quer dizer, ás vezes apetece-me "desafiá-lo" e berramos um pouco, mas acabo sempre por estender a toalha no chão. Ontem não foi um desses dias. Percebi tardiamente que ele estava mal disposto e que ia ser uma daquelas tardes. Aguentei serena, perante ele, mas consumida por dentro. A minha hérnia discal deu de si (é muito sensivél a tipa!!!), fumei mais que o devido e não tive paciência para os meus. Consegui restabelecer o meu equilibrio gozando comigo mesma "coitadinha da menina que não aguenta um pressão, estamos bem, estamos" e depois valeu-me o banho, os mimos da mãe e a minha cama companheira de muitos anos. Adormeci de novo a pensar que amanhã seria um dia melhor. E até é, um dia melhor. O patronato estava bem disposto e até me deu uma receita para usufruir dos benefícios da folha de oliveira através da infusão. Consegui ir buscar os exames médicos e tratar de burocracias da casa na minha hora de almoço. E de outros assuntos mais. Afinal não sou tão estupida e pequena. :)

Thursday, September 22, 2005

"Exercício"

Não sei que dizer do "exercício" que resolvi me submeter nestes dois últimos anos. É cliché, mas parece que foi ontem que comecei. Cada vez que entro no início daquela rua, os sintomas são sempre os mesmos, mãos frias e a suar, um mal estar geral, e um medo terrível. O exórdio, que dura cerca de 10 minutos, é sempre atabalhoado. Mas depois existe "uma rédea e um chicote" e lá sou orientada para o que me levou ali. Ainda não me habituei ao facto de não saber nada da pessoa que se encontra à minha frente e a quem tenho de falar dos meus anseios, medos, raivas, amores e desamores e coisas tais. Não tenho o hábito de falar (chego a pensar que é por isso que tenho uma voz grossa :)) e o "exercício semanal" obriga-me a tal. Tenho finais de sexta bons e menos bons, mas acho que os bons perduram senão já teria desistido...mas também não digo "e venham mais dois!". Um dia retomarei a análise destes anos, este pequeno extracto de texto foi só o começo (sim, dois anos depois...)

Tuesday, September 20, 2005

Pequeno adulto

Tenho um sobrinho lindo. Podem pensar que não estou a ser parcial, que sou mais uma tia babada, mas a verdade, é que ele é lindo em todos os aspectos. Apesar de tenra idade, já sofreu e sofre as vicissitudes da vida e como qualquer ser humano, tem dias bons e dias menos bons. Das coisas menos boas e mesmo não percebendo bem os porquês vai arranjando pretextos e desculpas para menos sofrer. Mas a dor está lá, dissimulada, e eu daria tudo quanto tenho para lhe tirar aquele olhar ausente, de quem está "lá e não cá". Não gosta de tocar nos assuntos directamente e como tal tenho de usar artimanhas para chegar até ele. Uma vez lá, toca no assunto mas foge rapidamente e começa a questionar outras coisas, a cantar, a fazer palhaçadas, como quem diz "tia, por aí não quero ir, é muito doloroso". E eu respeito, não vou por ali mas deixo sempre a porta aberta para quando ele quiser falar do assunto. Depois há o seu lado artístico, nasceu para o teatro, para a representação, adora fazer rir quem o ouve, e quem o vê acha que é a criança mais feliz do mundo. Ele nunca deixará transparecer a sua dor. É o meu pequeno adulto.

Friday, September 16, 2005

Fobia social

A fobia social é a intensa ansiedade gerada quando se é submetido à avaliação de outras pessoas. Essa ansiedade ainda que generalizada não se estende a todas as funções que uma pessoa possa desempenhar. Na maioria das vezes concentra-se sob tarefas ou circunstâncias bem definidas. É natural sentir-se acanhado quando se é observado: esse desconforto até certo ponto é normal e aceitável, muitas vezes vantajoso.
Para fazer o diagnóstico é necessário que a pessoa com fobia social apresente uma forte sensação de ansiedade ou desconforto sempre que exposta a determinadas circunstâncias. A ocorrência eventual para as mesmas situações como, por exemplo, escrever sendo observado exclui o diagnóstico de fobia social.O fóbico social sente-se muito incomodado todas as vezes que alguém o observa escrevendo. A intensidade desta reação de ansiedade é desproporcional ao nervosismo que esta situação exigiria das pessoas em geral, e isso é reconhecido pelo paciente. No momento em que a pessoa é exposta a situação fóbica, a crise de ansiedade é de tal forma intensa que parece uma crise de pânico. Por causa de todo o desconforto envolvido nessa situação a pessoa passa a apresentar um comportamento de evitação para estas situações.
Não há sintomas típicos de fobia social; como qualquer transtorno de ansiedade os sintomas são aqueles típicos de qualquer manifestação de ansiedade. O que caracteriza a fobia social particularmente é o desencadeamento dos sintomas sempre que a pessoa é submetida à observação externa enquanto executa uma actividade. Observa-se dentre os fóbicos tremores, suores, sensação de bolo na garganta, dificuldade para falar, mal estar abdominal, diarréia, tonteiras, falta de ar, vontade de sair do local onde se encontra o quanto antes. A preocupação por antecipação com as situações onde estará sob apreciação alheia, desperta a ansiedade antecipatória, fazendo com que o paciente fique vários dias antes de uma apresentação sofrendo ao imaginar-se na situação:
. Escrever ou assinar em público
. Falar em público
. Dirigir, estacionar um carro enquanto é observado
. Cantar ou tocar um instrumento musical
. Comer ou beber
. Ser fotografado ou filmado
Os pacientes com fobia social geralmente não conseguem dizer não a um vendedor insistente, compram um produto de que não precisam, só para se verem livres daquele vendedor, mas também nunca mais voltam àquele lugar. Os namoros muitas vezes são aceitos por conveniência e não por desejo verdadeiro. Os fóbicos sociais freqüentemente têm uma auto-estima baixa e julgam que devem aceitar a primeira pessoa que surge porque acham que não despertarão os interesses em mais ninguém.

Thursday, September 15, 2005

Seres humanos

Os seres humanos não podem existir se tudo o que é desagradável for eliminado, em vez de compreendido.

Wednesday, September 14, 2005

O controle do descontrole

Uma vez perguntaram-me que faria, se estivesse apaixonada por alguém e essa pessoa desconhecesse os meus sentimentos por ela. Fiquei algum tempo a matutar na questão pois de algum modo fiquei incomodada. E como as questões da psi sempre me apaixonaram, tive de pensar no porquê do meu desconforto. E vai daí fiz esta análise: associo sempre as pessoas apaixonadas ao descontrole. É próprio do que se está a viver. Até aqui tudo bem. Não, até aqui tudo mal, pois eu sou a mulher do controle. Sou o que se designa uma pessoa controlada, se me deixar ir pelos sintomas vou-me descontrolar, portanto, descontrolo-me controlando-me. Como tal acho que é antagónico a paixão e o controle que exerço sobre mim. Mas acredito que um dia me vá descontrolar....

P.S. é verdade, a minha resposta à questão, foi que fugia a sete pés... :)

Tuesday, September 13, 2005

Médicos

Não gosto deles. Não é não gostar, tenho medo deles. As batas brancas fazem activar todos os sinais de pânico que existem dentro de mim e os de fora também. O meu médico de família sabe disso e sabe que odeio queixar-me do que quer que seja, bem como de análises e medicamentos e coisas tais. Sou a paciente ideal. Por outro lado quando estou mesmo doente, sou a pior das pacientes. Após 3 a 4 meses a juntar dores e problemas respiratórios e outras coisas tais, ontem resolvi visitar o meu médico de familia e resolver estes problemas de uma só vez. Cheguei e despejei literalmente todas as minhas dores e arrelias para comigo. Ficou impávido. Não queria acreditar que finalmente me queixava e que afinal era igual a tantos outros doentes que ele possuía, uma chata! Após várias questões colocadas e respondidas, trago um molhe de folhas A4 com análises, rx e coisas tais que até tenho medo de olhar, e mesmo que olhe, não percebo patavina do que ele escreveu. Resultados imediatos: tenho uma tendinite no braço direito (não sei onde arranjei isto!!!), tenho de tirar um rx aos seios paranasais porque ele acha que sofro de sinosite (outra coisa que não sei onde apanhei nem muito menos que tinha seios na cara!!!) e tenho medicamentos para estas respectivas dores. Lamento, mas acho que cheguei aquela fase da P.D.I. , chega a todos sim, mas achava que eu de alguma maneira escaparia. :)

Monday, September 12, 2005

Domingo rabugento


Ontem acordei de rabuge. E não, não foi o resultado do Sporting-Benfica que me deixou assim, mas algo foi. Resultado: isolei-me. Passo a descrever o meu domingo rabugento: acordei, tomei um banho demorado, vesti-me e fui ao café. Voltei para casa, fiz o almoço e de novo adormeci mas desta feita no sofá da sala. Acordei já o dia estava a acabar e fui novamente ao café. Jantei e vi a final de tenis, USopen 2005, entre o Federer e o Agassi. Grande vitória do Federer reconheço mas torcia pelo Agassi. Desliguei o televisor e fui para a cama a pensar que amanhã o dia seria bem mais produtivo.
Até agora não me queixo. :)

Thursday, September 08, 2005

Lagoa da Posse (2)


Nada se penetra, nem átomos, nem almas.
Por isso nada possui nada.
Desde a verdade até a um lenço - tudo é impossível.
(A propriedade não é um roubo: não é nada)

Wednesday, September 07, 2005

Casa no campo

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais

Elis Regina

Tuesday, September 06, 2005

Poema enjoadinho

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Vinicius de Moraes

Voltei de férias...


E descrevo:

O concerto dos U2, foi bom, mas achei que tanto eu como o Bono estávamos ambos a precisar de umas merecidas férias. Achei-o pouco energético e a sua voz teve algumas falhas. A interacção com o público foi fabulosa, aliás o público foi fantástico. Foi bom, mas esperava e queria muito mais...

Seguidamente, isolei-me do mundo por 10 dias. Um esgotamento físico e emocional obrigou-me a tomar esta medida mais drástica, uma necessidade de me centrar e aos meus pensamentos, meter tudo na ordem. E sabem que mais? Resultou, pelo menos por enquanto. Neste momento, o voltar á realidade é como estar na fila de espera para dar uma volta na montanha russa. O arranque é devagar e achamos que até conseguimos aguentar, mas depois ganha velocidade e....apercebemo-nos que afinal não estamos tão preparados quanto isso para todos aqueles looping’s, mas alguma vez estaremos?

É bom voltar, e ter para onde voltar!