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Wednesday, August 09, 2006

Baralho de cartas

Por vezes não têm a sensação que existe uma força superior, com um baralho de cartas nas mãos que dita as suas próprias regras, independentemente do jogo em que estivermos inseridos? Quando julgamos que já entrámos no jogo, que é desta que finalmente vamos “serenar”, esqueçam! As regras mudaram, os jogadores que estavam connosco passam para outra, e jogamos com novos elementos. A nossa capacidade de mudança e adaptação, a novas mutações tem de estar sempre apta, se assim não for, não sobrevives. E a ironia?
Tens de ter um sentido de humor bem apurado e rir das cartas que te calham, mesmo que já tenhas tido aquele jogo e à partida saibas que nunca puderás ganhar aquela mão. Terás de aguardar pela tua vez. Tudo na vida é uma questão de sorte, muito depende das cartas que te dão e do bluf que saibas fazer ou não;)

Tuesday, August 08, 2006

Conto

Tenho de deitar tudo cá para fora: tenho medo das minhas loucuras temporárias, ando quilómetros sem dar um passo.

Ninguém sabe…que depois de tudo destruído, regresso. Nem acredito que o fiz, e tento não chorar, tento desembaraçar-me com paciência mas… já é tarde!

Já é tarde e as duas histórias já se misturaram. A tesoura que alcanço deixou de cortar faz tempo. E de cada vez que me mexo fico mais apertada. Bolas…porque me ausentei mais uma vez? Eu já devia saber que nunca conseguiria desembaraçar-me sozinha…que dor. Bolas, porque não penso antes de partir? Porquê este repentino que me surge do nada, sem eu mesma prever que aí vem?

Estive tão perto de não voltar, desta vez. Caí, e tive vontade de ficar por terra, adormecer para sempre, deixar levar-me ali mesmo….sem ninguem a meu lado, nem nada. Apenas ir...

Voltei, para lá mesmo sabendo dos riscos que corria. O ambiente é-me familiar bem como as pessoas que aí se encontram. Sinto frio. Embora conhecedora do local, tenho receio e analiso quem devo confrontar primeiro. Sim, é de confronto que se trata. É assim que resolvo as minhas questões pendentes, as questões por resolver….do consciente.

Nao sei por onde começar nem com quem. Olho e reparo que ainda ninguém reparou que me devo retirar. Fico apenas a observar os seus comportamentos pensando, e se eu deixasse de vir aqui? Porque venho cá? Que consigo com todas estas ausências e presenças temporais? A dor do regresso é tao forte que devia bastar para não voltar…

Identifico-me como as ondas do mar, vão e vêm…alisando o areal revolto por pés de ninguém, ou de alguém, mas de quem? Por vezes de tão calmo o mar, podemos pensar que as ondas não voltam....mas afinal, enganam-nos e regressam, como eu!. Basta aguardar pacientemente, como as minhas viagens. Vão e vêm….com o mesmo poder que as ondas do mar.

Que loucura! Porque me mantenho aqui? Porque vos mantenho aqui?

Reconheço alguém que entra. Não a vejo à tanto tempo que já me esqueci de a relacionar ao tempo, tão presente quando deixámos de nos falar. Deixámos de fazer tudo… de rir, de chorar, de escrever, de falar, de temporizar, apenas o tempo passado ficou no presente.

O futuro irá depender de eu me mexer deste banco.

Finjo não a ver. Não quero mexer em nada. Quero guardar esta imagem. Se me mexer…mexo no futuro.

Não! Fico aqui, quieta, à margem….

E de repente, tão de repente que chego a estremeçer e a me surpreender, levanto-me e vou de encontro a ela. Empurro-a e começo a gritar.

Mas porque diabo nos ausentámos? Nos deixámos?

Sem resposta, empurro-a com mais força.

Mas porque diabo nos ausentámos? Nos deixámos?

Sem me dar qualquer reacção, começo a bater-lhe com força e mais força. Até à minha exaustão e nao podendo mais, caí. Ela permaneceu de pé, aparentemente sem marcas.

Na verdade as marcas vão ficar cravadas em mim.

Ficarão cravadas quando regressar e me aperceber que mesmo em sonhos e num acto de loucura temporária, gritei-lhe, empurrei-a, bati-lhe.
Impávida e serena retomou o seu caminho, como se eu nem me tivesse mexido.

Eu fiquei caída e tive vontade de ficar, adormecer aconchegada à água das lágrimas. Deixar levar-me, pelas lágrimas…. Apenas ir… e enganar as ondas do mar!


Thursday, August 03, 2006

À beira do abismo

Não te consegues libertar dessa pressão que reside em ti desde que existes e ainda antes. A expectativa de tudo o que ambicionaram para ti desde que souberam que vinhas a caminho. O teu nascimento, a tua ausência de deficiências, os dentes, o andar, as palavras, os amigos, a escola, os amigos, o relacionamento com os pais e irmãos, outra escola, novos amigos, novas experiências... o atravessar uma vida sem mazelas e danos irreversíveis. Praticamente impossível. Todo este tempo depois, ainda te colocam expectativas muito altas, pelo menos para ti. Queres pouca coisa e contentas-te com pouco e querem sempre mais e mais e exigem demais de ti. Um dia vais quebrar, de uma maneira ou de outra. Estás à beira do abismo e tu sabes...