Palavras em forma de lágrimas
estás encarcerado, num corpo que é teu, mas já não te responde. adoeceu, de doenças indizíveis. os tubos que te circundam e te ligam à vida fazem apitar máquinas que não sabemos ler, dão-te de comer uma massa pastosa de aspecto duvidoso e libertam líquidos de cores assustadoras. apercebeste-te de tudo e tens medo. sentes-te vivo quando nos vês, mas depois vem a impotência de nada conseguires dizer. as lágrimas escorrem-te pela cara num último desespero de explicar aquilo que te vai na alma. e nós sabemos, sabemos que estás aí fechado, sabemos que estás farto de tudo isso, sabemos o quanto nos queres. egoístas nós, queríamos o sabor das tuas palavras, de te ouvir dizer que queres a tua roupa para sair dali, que queres o teu jornal e o teu café. a esposa de uma vida, sentada a teu lado nessa mesma mesa de café, a surpresa da visita dos filhos, do neto e do cão que está inconsolável com a tua falta e não sabe para que “relvado” foste tu passear que não voltas. Mas tu voltas, não voltas?
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