A aceitação
"Depois de termos aceite tudo dos nossos pais, estranhamente nunca mais conseguimos aceitar a generosidade dos outros, mesmo dos que estão coladinhos a nós, sem “fazer contas” à nossa capacidade de os compensar por aqueles gestos. Não é uma questão pura de “deve e haver” – porque nos sentimos perfeitamente capazes de fazer tudo por eles, sem esperar nada em troca-, mas é como se não suportássemos o peso da dívida. Não sei explicar, mas suspeito que, se um psicólogo encartado passasse por estas linhas, diria qualquer coisa como “ isso só acontece àquelas pessoas que não se acham merecedoras dos outros”. E depois, cá para mim, acrescentaria: “e é por isso que quanto menos gostamos de nós mesmos, menos nos deixamos amar”. Talvez seja isso: talvez seja o medo de desiludir, de não corresponder às expectativas, talvez seja o medo de “perder” os outros. E talvez seja apenas porque é essa a verdade das coisas, e somos sensatos em perceber que não devemos exigir aquilo que não devemos pagar. O que é na verdade, de certezinha, é que nunca mais somos capazes de exigir um veemente “fica aqui ao pé de mim” sem perder mais um minuto a pensar no assunto."
Isabel Stilwell
Isabel Stilwell
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